O sistema tributário brasileiro é conhecido por sua complexidade, um verdadeiro desafio para empreendedores. No entanto, o cenário está prestes a passar pela maior transformação das últimas décadas. Aprovada e promulgada, a nova Reforma Tributária promete simplificar a apuração de impostos sobre o consumo, mas sua implementação gradual exige atenção e preparo de todas as empresas, independentemente do porte. Para muitos, o tema parece distante e repleto de termos técnicos, mas entender suas implicações é fundamental para a sobrevivência e competitividade do negócio.
A Reforma Tributária é uma ampla alteração no sistema de impostos sobre o consumo do Brasil, oficializada pela Emenda Constitucional 132/2023. Seu principal objetivo é simplificar a cobrança de impostos, substituindo cinco tributos (PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS) por um Imposto sobre Valor Agregado (IVA) no modelo dual, composto pela CBS (federal) e pelo IBS (estadual/municipal).
Este artigo é um guia definitivo para o pequeno e médio empresário. Vamos traduzir o “contabilês” e mostrar o que realmente muda na prática, detalhando o impacto do novo sistema no seu dia a dia e como sua empresa pode se preparar para essa nova era fiscal. Compreender essa transição é o primeiro passo para entender os atuais regimes tributários no Brasil e garantir a saúde financeira do seu negócio.
Principais Destaques
- Fim de 5 tributos: PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS serão totalmente substituídos.
- Criação do IVA Dual: Impostos unificados na CBS (federal) e IBS (estadual/municipal).
- Transição gradual: O novo sistema começa em 2026 e vigora plenamente apenas em 2033.
- Simples Nacional mantido: O regime continua, mas com novas opções para gerar créditos de IVA.
O Que é a Reforma Tributária? Entendendo a Mudança do Sistema Atual para o IVA

Por décadas, empresas brasileiras convivem com um sistema tributário sobre o consumo extremamente complexo e oneroso. O principal problema é a cumulatividade, também conhecida como “imposto em cascata”. Isso ocorre porque tributos como PIS e Cofins incidem em várias etapas da cadeia produtiva sem permitir o aproveitamento de créditos de forma plena, fazendo com que o imposto pago na etapa anterior componha o custo do produto e seja tributado novamente. O resultado é um aumento artificial dos preços e uma falta de transparência sobre a carga tributária real.
A solução proposta é a criação do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), um modelo internacionalmente reconhecido por sua eficiência. O conceito central do IVA é a não-cumulatividade plena, onde o imposto incide apenas sobre o valor adicionado em cada fase da produção ou serviço, garantindo que o tributo pago na etapa anterior gere crédito para abater o imposto devido na etapa seguinte.
No Brasil, foi adotado o modelo de IVA Dual, que divide o imposto em duas esferas de competência para respeitar o pacto federativo:
- CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços): Será o IVA de competência federal, que irá unificar três tributos existentes: o PIS e COFINS e o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados).
- IBS (Imposto sobre Bens e Serviços): Será o IVA de competência de estados e municípios, substituindo o ICMS (estadual) e o ISS (municipal).
Principais Mudanças da Reforma Tributária em Pontos (Otimizado para List Snippet)

Para facilitar a compreensão, listamos os pilares fundamentais que sustentam a Reforma Tributária e que impactarão diretamente a gestão das empresas.
- Unificação de Tributos: A mudança mais visível é a extinção de cinco impostos sobre o consumo: PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS. Todos eles serão substituídos pela dupla CBS e IBS.
- Não-Cumulatividade Plena: Diferente do sistema atual, o novo modelo garante que todo imposto pago na aquisição de insumos, produtos ou serviços gere crédito para ser abatido na operação seguinte. Isso acaba com o efeito cascata e torna a tributação mais justa.
- Tributação no Destino: A cobrança do imposto passará a ser feita no estado e município onde o produto ou serviço é consumido, e não na origem, onde a empresa está localizada. Essa medida visa acabar com a chamada “guerra fiscal” entre os estados.
- Alíquota Padrão e Reduzida: Haverá uma alíquota padrão (ainda a ser definida por lei complementar), mas alguns setores essenciais terão tratamento favorecido. Serviços de saúde, educação, transporte público e produtos da cesta básica, por exemplo, terão alíquotas reduzidas.
- “Imposto do Pecado” (Imposto Seletivo): Será criado um imposto adicional, de caráter regulatório, que incidirá sobre a produção, comercialização ou importação de bens e serviços prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente, como cigarros e bebidas alcoólicas.
Como a Reforma Tributária Afeta Cada Regime Tributário?

O impacto da Reforma Tributária não será uniforme para todas as empresas. A mudança será sentida de maneiras diferentes dependendo do regime tributário no qual o negócio está enquadrado.
Simples Nacional
Para a tranquilidade de milhões de empreendedores, o Simples Nacional será mantido como um regime opcional e diferenciado. As empresas optantes continuarão recolhendo seus tributos de forma unificada através do Documento de Arrecadação do Simples Nacional (DAS).
A grande novidade é a flexibilidade. A empresa do Simples poderá optar por duas formas de recolher o novo IVA (CBS/IBS):
- Dentro do DAS: Mantendo a sistemática atual, com uma alíquota única e simplificada.
- Por fora do DAS: Recolhendo a CBS e o IBS no regime geral, como as demais empresas.
A segunda opção, embora pareça mais complexa, pode se tornar uma vantagem competitiva. Ao recolher o IVA por fora, a empresa do Simples poderá gerar créditos plenos para seus clientes (que geralmente são empresas maiores, de outros regimes), tornando-se um fornecedor mais atrativo. É crucial analisar como o Simples Nacional funciona atualmente para tomar a melhor decisão.
Lucro Presumido e Lucro Real
Empresas enquadradas no Lucro Presumido e no Lucro Real sentirão o impacto mais direto e profundo da reforma. A extinção de PIS, Cofins, ICMS e ISS mudará completamente a rotina fiscal e contábil desses negócios. A apuração de impostos, que hoje segue regras complexas e distintas para cada tributo, será unificada na sistemática do IVA.
O principal ponto de atenção será a gestão de créditos. Com a não-cumulatividade plena, o controle sobre as notas fiscais de entrada e a correta apropriação dos créditos de CBS e IBS se tornarão o coração da apuração tributária. Isso significa que o planejamento tributário dessas empresas, especialmente a gestão de créditos, será completamente reformulado. Será preciso revisar processos internos, sistemas de gestão (ERPs) e treinar equipes para se adaptarem às novas regras, como as regras do Lucro Presumido que serão substituídas no âmbito do consumo.
Cronograma de Transição: Quando as Mudanças Realmente Começam?

A transição para o novo sistema será longa e gradual, permitindo que empresas e governo se adaptem. É fundamental conhecer as datas para se planejar adequadamente.
- 2026: Este será o ano de teste. A CBS e o IBS serão implementados com alíquotas de calibração: 0,9% para a CBS e 0,1% para o IBS. Os valores pagos poderão ser compensados com o PIS e a Cofins devidos, servindo como um período de aprendizado.
- 2027: A CBS entra em vigor em definitivo, substituindo completamente o PIS e a Cofins. O IPI terá suas alíquotas zeradas, exceto para produtos que concorrem com os fabricados na Zona Franca de Manaus.
- 2029 a 2032: Inicia-se a transição mais longa, do ICMS e do ISS para o IBS. Durante esses quatro anos, as alíquotas dos impostos antigos serão reduzidas gradualmente, enquanto a do IBS aumentará na mesma proporção.
- 2033: O novo sistema tributário passa a vigorar de forma plena. O PIS, a Cofins, o IPI, o ICMS e o ISS são extintos por completo, e apenas o IVA (CBS e IBS) e o Imposto Seletivo estarão em vigor para a tributação do consumo.
Entender esse cronograma reforça a importância de um planejamento tributário legal, pois as decisões tomadas hoje podem ter grande impacto nos próximos anos.
O Que Sua Empresa Pode Fazer Agora para se Preparar?

Embora a vigência plena do novo sistema pareça distante, a preparação deve começar imediatamente. A transição exigirá mudanças estruturais na forma como as empresas gerenciam suas finanças e operações fiscais.
O primeiro passo é organizar a casa. Uma contabilidade bem estruturada e em dia é a base para qualquer planejamento. A partir daí, algumas ações práticas podem ser tomadas:
- Revisar Cadastros: Analise e atualize o cadastro de todos os seus produtos e serviços. A nova tributação dependerá de classificações que ainda serão definidas em lei complementar, mas ter uma base de dados organizada facilitará a adaptação.
- Avaliar Impactos Financeiros: Comece a simular o impacto do IVA no seu fluxo de caixa e na precificação. Como a não-cumulatividade afetará seus custos? Seus preços precisarão ser reajustados?
- Tecnologia e Processos: Verifique se seu sistema de gestão (ERP) está preparado para a nova realidade. Ele precisará calcular e gerenciar os créditos de CBS e IBS de forma eficiente.
- Busque Orientação Profissional: Este é o momento ideal para conversar com seu contador. Discutir os possíveis cenários e entender as particularidades do seu negócio é crucial. Uma consultoria de planejamento tributário especializada na transição pode ser o diferencial para transformar desafios em oportunidades.
A Reforma Tributária é complexa, mas seu objetivo final é criar um ambiente de negócios mais simples, justo e competitivo no Brasil. A longo prazo, a expectativa é de redução da burocracia e maior transparência para o consumidor. No entanto, o caminho até 2033 será de adaptação.
O primeiro passo para qualquer empresário, especialmente para aqueles que gerenciam empresas com múltiplas atividades, é garantir que sua contabilidade esteja impecável. Ter uma base de dados sólida e processos fiscais bem definidos hoje será o alicerce para uma transição segura e bem-sucedida amanhã.
A transição para o novo sistema tributário será desafiadora. Quer garantir que sua empresa esteja preparada e aproveite as melhores oportunidades? Fale com nossos especialistas e saia na frente ao contratar uma consultoria de planejamento tributário especializada.
Perguntas Frequentes
O que é o IVA Dual na prática?
O IVA Dual significa que teremos dois impostos sobre o valor agregado: a CBS, de competência federal, unificando PIS, Cofins e IPI; e o IBS, de competência de estados e municípios, unificando ICMS e ISS. Ambos funcionarão com as mesmas regras gerais.
Qual será a alíquota do novo imposto?
A alíquota padrão ainda não foi definida e dependerá de Lei Complementar. Estimativas de mercado apontam para um valor em torno de 27%, mas haverá alíquotas reduzidas para setores essenciais como saúde, educação e produtos da cesta básica.
Minha empresa no Simples Nacional será obrigada a mudar?
Não. A adesão ao regime do Simples Nacional continuará sendo opcional. A empresa poderá escolher continuar pagando seus impostos de forma unificada no DAS ou, se for mais vantajoso, recolher o IVA (CBS/IBS) por fora para gerar crédito aos seus clientes.
Por que a transição da Reforma Tributária levará tantos anos?
O longo período de transição, de 2026 a 2033, foi planejado para permitir uma adaptação suave e segura tanto para os contribuintes quanto para o governo. Isso evita mudanças abruptas na arrecadação de estados e municípios e dá tempo para as empresas ajustarem seus sistemas e processos.
Sobre o Autor
Júnior Araújo
- Título: Contador e CEO da Junior Contador Digital;
- Registro CRC: SP-345376;
- Formação: Ciências Contábeis – Faculdade de Americana (FAM);
- Expertise Principal: Consultoria contábil e fiscal estratégica, com foco em estratégias de estruturação de holdings patrimoniais, planejamento tributário e otimização fiscal para empresas de diversos portes.
- Conhecimento Adicional: Integração de tecnologia em processos contábeis, Normas IFRS;
- Papel no Blog: Editor-Chefe e autor, compartilhando conhecimento prático para PMEs.
Referências
- PIS/PASEP: https://www.gov.br/tesouronacional/pt-br/ativos-da-uniao/fundos-governamentais/pis-pasep
- Tabelas de Códigos COFINS: https://www.gov.br/receitaferal/pt-br/assuntos/orientacao-tributaria/declaracoes-e-demonstrativos/dctf/tabelas-de-codigos-extensoes/cofins
- Portal do Simples Nacional: https://www8.receita.fazenda.gov.br/simplesnacional/
- Lucro Real, Presumido e Arbitrado: https://www.gov.br/pgfn/pt-br/cidadania-tributaria/por-assunto/indice-assuntos-portal/irpj-csll/lucro-real-lucro-presumido-e-lucro-arbitrado
- Evasão e Elisão Fiscal: https://www.contabeis.com.br/noticias/40666/evasao-e-elisao-fiscal
- Portal da Reforma Tributária: https://www.gov.br/fazenda/pt-br/assuntos/reforma-tributaria
- Entenda o que é o IVA: https://www.camara.leg.br/noticias/991379-entenda-o-que-e-o-iva-imposto-que-unifica-tributos-sobre-consumo/
