Descubra como construir o primeiro nível de gerência em sua PME com nosso guia passo a passo, superando o gargalo do fundador e escalando seu negócio.
Todo fundador de uma Pequena ou Média Empresa (PME) chega a um ponto de inflexão crítico: o momento em que a sua presença se torna o maior gargalo para o crescimento do negócio. Responder a todos os e-mails, aprovar cada pequena decisão e apagar incêndios operacionais consome todo o tempo que deveria ser dedicado à estratégia. Esta é uma fase natural e um sinal de sucesso, mas superá-la exige uma mudança fundamental. É aqui que entra o desafio da transição do fundador de ‘faz-tudo’ para CEO, uma jornada que começa com uma decisão estratégica: construir o primeiro nível de gerência.
A criação de uma camada de liderança intermediária é o que permite que uma empresa escale de forma sustentável. Sem ela, o negócio fica limitado à capacidade individual do dono. Este guia definitivo foi desenhado para empreendedores que estão nesse exato momento, oferecendo um framework prático e passo a passo para selecionar, treinar e capacitar os primeiros gerentes da sua empresa.
Ao seguir estas etapas, você não apenas liberará seu tempo para focar no que realmente importa — a visão e o futuro da empresa —, mas também criará uma organização mais resiliente, ágil e preparada para o próximo nível de crescimento. Vamos detalhar como transformar sua operação e construir o primeiro nível de gerência de forma eficaz.
Principais Destaques
- Identifique a hora certa de contratar gerentes quando você gasta mais de 60% do tempo em operações.
- Promova com base em potencial de liderança, não apenas por desempenho técnico excepcional.
- Utilize o framework de 4 passos: Desenho do Cargo, Seleção, Delegação Estruturada e Rituais de Gestão.
- Meça o sucesso da nova gerência pela eficiência operacional e pelo tempo do fundador liberado.
O que é o primeiro nível de gerência e por que sua PME precisa dele?

O primeiro nível de gerência é a camada de liderança que supervisiona diretamente as equipes operacionais, servindo como a ponte crucial entre a estratégia da diretoria e a execução do dia a dia. Para PMEs, sua construção é o passo fundamental para escalar operações e liberar os fundadores do microgerenciamento. Esses líderes são os maestros que garantem que a orquestra (a equipe) toque em harmonia, seguindo a partitura (a estratégia).
A principal função desses gerentes é traduzir metas de alto nível em tarefas diárias, claras e executáveis para suas equipes. Eles são responsáveis por monitorar o desempenho, orientar os colaboradores, resolver problemas imediatos e garantir que os padrões de qualidade sejam mantidos. Sem essa camada, a comunicação entre a liderança e a base operacional se torna ineficiente, gerando ruídos, desalinhamento e perda de produtividade.
Para uma PME, o impacto de não ter essa estrutura é o que chamamos de “teto do fundador”. O negócio simplesmente para de crescer porque o dono não consegue mais supervisionar tudo e todos. Construir o primeiro nível de gerência é, portanto, a decisão estratégica que quebra esse teto, permitindo que a empresa cresça de forma organizada e sustentável.
Os 3 sinais de que chegou a hora de criar sua primeira camada de gestão

Identificar o momento exato para criar uma camada de gestão é crucial. Adiar essa decisão pode levar ao esgotamento do fundador e à estagnação do negócio. Aqui estão três sinais claros de que a hora chegou.
Sinal 1 (Gargalo do Fundador)
Se você, como fundador, passa mais de 60% do seu tempo em tarefas operacionais e aprovações rotineiras, você se tornou o principal gargalo da empresa. Quando todas as aprovações dependem de uma única pessoa, a centralização de decisão transforma o fundador em um gargalo que impede o crescimento. A incapacidade de focar na estratégia, em novos negócios ou em parcerias é um forte indicativo de que você precisa delegar a gestão do dia a dia.
Sinal 2 (Queda de Qualidade)
Quando a equipe cresce para além de 8 a 10 pessoas sob uma única liderança, é natural que a consistência e a qualidade do trabalho comecem a cair. O fundador simplesmente não consegue mais acompanhar de perto o trabalho de todos. Erros se tornam mais frequentes, prazos são perdidos e o padrão de entrega que antes era um diferencial começa a se deteriorar. Este é um sinal clássico de que as equipes precisam de uma liderança mais próxima e dedicada.
Sinal 3 (Perda de Talentos)
Bons funcionários anseiam por desenvolvimento, feedback e um caminho claro de crescimento. Em uma estrutura achatada, onde todos respondem diretamente ao fundador, essas necessidades são frequentemente negligenciadas. A ausência de um líder direto para orientar, desenvolver e reconhecer o trabalho leva à desmotivação. Se você está perdendo talentos para empresas que oferecem mais estrutura e perspectivas de carreira, é um alerta vermelho de que você precisa criar essas oportunidades internamente.
O Perfil Ideal: Como identificar potenciais líderes na sua equipe

Um dos erros mais comuns ao construir o primeiro nível de gerência é promover o melhor vendedor a gerente de vendas ou o melhor desenvolvedor a líder de tecnologia. O desempenho técnico excepcional não garante uma boa liderança. A gestão exige um conjunto de habilidades completamente diferente. Por isso, é fundamental buscar o perfil com potencial de liderança, não apenas o melhor executor. Identificar talentos internos não é apenas mais barato, mas também fortalece a cultura e serve como um embrião para um futuro plano de sucessão.
As competências-chave de um futuro líder incluem:
- Comunicação: A capacidade de ouvir ativamente, transmitir ideias com clareza e adaptar a mensagem para diferentes públicos.
- Visão de Processo: A habilidade de enxergar além da tarefa individual e entender como as partes se conectam para formar o todo. Eles naturalmente pensam em como otimizar fluxos de trabalho.
- Senso de Dono (Ownership): A atitude proativa de assumir responsabilidade pelos resultados, mesmo fora de sua descrição de cargo. Eles não dizem “isso não é problema meu”.
Para avaliar essas competências na prática, crie um “test drive”. Dê a um candidato em potencial um pequeno projeto para liderar, que envolva coordenar 2 ou 3 colegas. Observe como ele se comunica, organiza as tarefas e assume a responsabilidade pelo resultado. Essa é uma forma de baixo risco para avaliar o potencial de gestão antes da promoção oficial e está alinhada com a estratégia de contratar para a escala, pensando no futuro da empresa.
O Framework de 4 Passos para Estruturar seu Primeiro Nível Gerencial

Estruturar sua primeira camada de gestão requer um processo intencional. Simplesmente promover alguém e esperar que dê certo é a receita para o fracasso. Siga este framework de 4 passos para uma transição suave e eficaz.
Passo 1: Desenho do Cargo e Definição de Metas
Antes de qualquer coisa, defina o que é sucesso para essa nova função. O primeiro passo é desenhar o “scorecard” do cargo, definindo claramente os KPIs (Key Performance Indicators) que medirão o sucesso daquele gerente e sua equipe. Quais são as 3 a 5 responsabilidades principais? Quais resultados quantitativos ele precisa entregar? Ter essa clareza desde o início alinha as expectativas e orienta o foco do novo líder.
Passo 2: Seleção e Onboarding Focado em Gestão
Seja promovendo internamente ou contratando externamente, o processo de onboarding é crítico. O erro comum é focar o treinamento apenas nas tarefas técnicas da área. O novo gerente precisa, acima de tudo, ser treinado em como gerenciar. Isso inclui treiná-los em habilidades de liderança essenciais, como dar feedback construtivo, conduzir reuniões produtivas e gerenciar o desempenho do time. É fundamental ressaltar a importância de padronizar processos (SOPs) antes de escalar para que o novo gestor tenha uma base sólida para trabalhar.
Passo 3: Delegação Estruturada e Autonomia Gradual
A delegação efetiva não é sobre “delargar” tarefas, mas sim sobre transferir responsabilidade com clareza e dar autonomia de forma gradual. Utilize uma matriz de delegação para definir o nível de autonomia para diferentes tipos de decisão (ex: Nível 1: “Decida e me informe”; Nível 2: “Decida e execute”). Comece com um controle maior e aumente a autonomia à medida que a confiança e a competência do novo gerente se consolidam.
Passo 4: Rituais de Gestão e Comunicação
A consistência na comunicação é a espinha dorsal de uma boa gestão. Defina rituais de comunicação essenciais, como a frequência das reuniões de one-on-one (1:1), os encontros de equipe e os formatos de reporte de resultados. Esses rituais garantem o alinhamento, permitem a identificação rápida de problemas e criam um canal formal para feedback e desenvolvimento, tanto para o gerente quanto para a equipe.
As Funções Essenciais do Gerente de Primeiro Nível na Prática

As responsabilidades de um gerente de primeiro nível são multifacetadas e cruciais para a saúde da operação. Eles são a engrenagem que conecta a estratégia à execução diária.
Uma de suas principais responsabilidades é traduzir os objetivos estratégicos da empresa, muitas vezes definidos como OKRs (Objectives and Key Results), em tarefas e metas diárias para a equipe. Eles garantem que cada membro do time entenda como seu trabalho contribui para os resultados da companhia. Isso é fundamental para escalar a sua equipe de vendas com estrutura e metas ou para aplicar estratégias para escalar o Atendimento ao Cliente sem perder a qualidade.
Além do cascateamento de metas, suas funções incluem:
- Gestão de Desempenho: Acompanhar a performance individual e coletiva, oferecendo suporte e feedback contínuos para garantir que as metas sejam atingidas.
- Desenvolvimento da Equipe: Identificar as necessidades de treinamento, atuar como mentor e criar oportunidades para o crescimento profissional dos liderados.
- Resolução de Conflitos: Atuar como mediador em conflitos interpessoais ou de processo dentro da equipe, garantindo um ambiente de trabalho saudável e produtivo.
- Reporte de Resultados: Consolidar os resultados da equipe e comunicá-los de forma clara para a alta gestão, fornecendo visibilidade sobre o progresso e os desafios da operação.
Métricas para Medir o Sucesso da Nova Gerência (e o ROI da decisão)

A decisão de criar uma camada de gestão é um investimento, e como todo investimento, seu retorno (ROI) deve ser medido. O sucesso não é subjetivo; ele pode e deve ser quantificado através de métricas claras que demonstrem o impacto positivo no negócio.
A primeira área a ser medida é a Eficiência Operacional. A produtividade da equipe gerenciada aumentou? Houve uma redução no tempo de ciclo dos projetos ou no custo por entrega? Métricas como produção por colaborador ou tempo médio de atendimento são indicadores diretos do impacto do novo gestor.
Outra métrica fundamental é o Tempo do Fundador Liberado. Quantas horas por semana você, como fundador, deixou de gastar em tarefas operacionais? Esse tempo foi redirecionado para atividades estratégicas? O objetivo é transformar o tempo do fundador de reativo para proativo.
Indicadores de Clima Organizacional também são essenciais. Acompanhe a taxa de rotatividade (turnover) da equipe e o eNPS (Employee Net Promoter Score). Uma boa gestão tende a aumentar o engajamento e a retenção de talentos. Por fim, meça a Qualidade, observando a redução no número de erros, reclamações de clientes ou retrabalho. Esses dados comprovam que a nova liderança está sustentando e melhorando os padrões da empresa.
Os 4 Erros Fatais que Fundadores de PMEs Cometem (e como evitá-los)

A transição para uma estrutura com gerentes pode ser cheia de armadilhas. Conhecer os erros mais comuns é o primeiro passo para evitá-los e garantir o sucesso da sua nova liderança.
Erro 1 (Promover e Abandonar)
Este é o erro mais clássico. O fundador promove um excelente técnico, dá os parabéns e simplesmente o abandona, esperando que ele descubra como ser um bom gerente por conta própria.
- Como evitar: Crie um plano de treinamento e mentoria de 90 dias. Agende check-ins semanais para discutir desafios de gestão, não apenas resultados operacionais. Invista em cursos ou coaching de liderança.
Erro 2 (Microgerenciar o Gerente)
O fundador delega a responsabilidade, mas não a autoridade. Ele continua tomando as decisões, revisando cada detalhe e minando a confiança do novo líder perante a equipe.
- Como evitar: Use a matriz de delegação mencionada anteriormente. Defina claramente quais decisões o gerente pode tomar sozinho. Quando um membro da equipe tentar “pular” o gerente para falar com você, redirecione-o de volta ao seu líder direto.
Erro 3 (Manter Canais Paralelos)
Este erro está ligado ao anterior. O fundador permite que a equipe continue a reportar-se diretamente a ele, criando um canal de comunicação paralelo que enfraquece a autoridade do novo gerente.
- Como evitar: Comunique formalmente à equipe a mudança na estrutura. Deixe claro que o novo gerente é o ponto de contato principal para questões do dia a dia. Seja disciplinado e reforce essa nova estrutura em todas as interações.
Erro 4 (Falta de Clareza nas Metas)
O novo gerente começa sem saber exatamente como seu sucesso será medido. As expectativas são vagas, e ele fica perdido sobre onde deve focar sua energia.
- Como evitar: Crie o “scorecard” do cargo antes mesmo da contratação ou promoção. Defina de 3 a 5 KPIs claros e mensuráveis para a função. Revise esses indicadores regularmente nas reuniões de 1:1.
Conclusão
A decisão de construir o primeiro nível de gerência é mais do que uma simples mudança organizacional; é um marco na evolução de uma PME e na jornada do próprio fundador. Significa redesenhar seu papel, movendo-se do centro da operação para a posição de arquiteto da estratégia e da cultura. É o passo que transforma um negócio dependente do dono em uma empresa autogerenciável e pronta para escalar.
Reconhecer os sinais, escolher o perfil certo, seguir um framework estruturado e evitar os erros comuns são as chaves para o sucesso dessa transição. O processo exige paciência, investimento em treinamento e, acima de tudo, a confiança do fundador para delegar de verdade. O resultado é uma empresa mais forte, uma equipe mais engajada e um líder com tempo para focar no crescimento sustentável.
Lembre-se que este é o caminho para criar um negócio que prospere com ou sem a sua presença constante em cada detalhe. Comece hoje mesmo a planejar essa estrutura. Identifique uma tarefa operacional que você ainda faz e que poderia ser o primeiro passo para a delegação. Esse pequeno ato é o início da sua jornada para se tornar um verdadeiro CEO.
Perguntas Frequentes
Qual o momento ideal para contratar o primeiro gerente?
O momento ideal é quando o fundador se torna o gargalo operacional, gastando mais tempo em tarefas do dia a dia do que em estratégia, e quando a equipe cresce a ponto de a qualidade e a comunicação começarem a falhar, geralmente acima de 8-10 pessoas.
Devo promover alguém de dentro ou contratar de fora?
Promover internamente pode ser ótimo para a cultura e motivação, desde que o candidato tenha real potencial de liderança. Contratar de fora pode trazer novas experiências e habilidades, mas exige um cuidado maior com o alinhamento cultural. A melhor escolha depende do seu contexto e dos talentos disponíveis.
Como treinar um novo gerente que nunca liderou antes?
Foque em habilidades de gestão, não apenas técnicas. Invista em treinamentos sobre feedback, comunicação, gestão de desempenho e resolução de conflitos. Crie um programa de mentoria com o fundador para discutir desafios de liderança semanalmente.
Quanto de autonomia devo dar ao novo gerente?
A autonomia deve ser gradual. Comece com decisões de baixo impacto e aumente o escopo à medida que o gerente demonstra competência e confiança. Use uma matriz de delegação para deixar claro quais decisões exigem aprovação e quais podem ser tomadas de forma independente.
Sobre o Autor
Roberto Sousa
CMO e CTO da Junior Contador Digital. Formado em Engenharia pela Escola Politécnica da USP e com Pós-Graduação em Marketing pela ESPM, Roberto possui vasta expertise em gestão de empresas, marketing, vendas, gestão de pessoas e tecnologia. Com conhecimento adicional em marketing digital, CRM, automação de processos e segurança da informação, ele atua como autor no blog, compartilhando seu conhecimento prático para ajudar no crescimento de Pequenas e Médias Empresas.
Referências
- O que é KPI: https://www.totvs.com/blog/negocios/o-que-e-kpi/
- Plano de Sucessão: https://www.gupy.io/blog/plano-de-sucessao
- OKR: O que é e como implementar: https://rockcontent.com/br/blog/okr/
- Agilidade e Centralização de Decisão: https://www.fm2s.com.br/blog/agilidade
- Como Delegar Tarefas de Maneira Eficaz: https://exame.com/carreira/guia-de-carreira/como-delegar-tarefas-de-maneira-eficaz-e-empoderar-sua-equipe/
- Tipos de Feedback: https://gptw.com.br/conteudo/artigos/tipos-de-feedback/
- One-on-one: Guia Completo: https://www.feedz.com.br/blog/one-on-one/
