- Descubra como a estratégia “Isca e Anzol” funciona, vendendo um produto principal com baixa margem para lucrar nos itens de reposição.
- Analise exemplos clássicos como Gillette e HP, e veja como empresas de software como a Salesforce adaptaram o modelo para o mercado digital.
- Conheça as vantagens, como a fidelização de clientes, e as desvantagens, como o risco de concorrentes quebrarem o “aprisionamento tecnológico”.
- Aprenda os passos essenciais para aplicar o modelo no seu negócio, desde a definição da “isca” até a estratégia de precificação dos “anzóis.
O que é o Modelo Isca e Anzol (Razor and Blades Model)?

O modelo de negócio Isca e Anzol, também conhecido como Razor and Blades, é uma estratégia de precificação onde um item principal (a “isca”) é vendido por um preço muito baixo, às vezes até com prejuízo, para atrair o consumidor. O lucro real e recorrente vem da venda contínua de produtos complementares e descartáveis (os “anzóis”), que são necessários para o funcionamento do item principal.
Essa abordagem transforma uma única transação em um relacionamento de longo prazo com o cliente, garantindo um fluxo de receita constante. A ideia central é simples: o baixo custo inicial remove a barreira de entrada para o consumidor, enquanto a necessidade de reposição dos itens complementares assegura vendas futuras.
A lógica por trás da isca e do anzol
A lógica do modelo é criar uma dependência funcional. A “isca”, como um aparelho de barbear ou uma impressora, é o que atrai o cliente e o introduz no ecossistema da marca. Uma vez que o cliente possui o produto principal, ele precisa comprar os “anzóis” — as lâminas de reposição ou os cartuchos de tinta — exclusivamente da mesma empresa para continuar utilizando o produto.
Essa estratégia é eficaz porque o valor percebido inicialmente pelo cliente é muito alto, já que o produto principal é acessível. O custo dos itens de reposição, embora maior em termos de margem de lucro para a empresa, é diluído ao longo do tempo, tornando-se uma despesa recorrente e, muitas vezes, aceitável para o consumidor.
Diferença para outros modelos de precificação
Diferente de modelos que buscam o lucro na venda única de um produto, o Isca e Anzol foca no Lifetime Value (LTV), ou seja, no valor total que um cliente gera para a empresa ao longo do tempo. Enquanto uma estratégia de preço premium posiciona um produto como exclusivo e de alto custo desde o início, o Isca e Anzol faz o oposto: democratiza o acesso ao produto principal para maximizar a base de clientes que comprarão os refis.
Outros modelos, como o de preço de entrada, usam um valor baixo para ganhar mercado, mas com a intenção de aumentar o preço do produto principal no futuro. No modelo Isca e Anzol, o preço da “isca” permanece baixo, pois o foco do lucro está permanentemente nos “anzóis”, uma tática que visa criar um fluxo constante de receita a partir de produtos complementares.
Como funciona a estratégia Isca e Anzol na prática?

A implementação bem-sucedida do modelo Isca e Anzol depende de um equilíbrio cuidadoso entre o produto principal e seus consumíveis, além da criação de um ecossistema que incentive a fidelidade do cliente.
O produto “isca”: baixo custo e alta atratividade
A “isca” deve ser um produto desejável e com um preço irresistivelmente baixo. O objetivo é fazer com que o cliente tome a decisão de compra rapidamente, sem se preocupar com o investimento inicial. A margem de lucro aqui é mínima ou inexistente. O sucesso da “isca” está em sua capacidade de ser amplamente adotada pelo maior número possível de consumidores, criando assim um mercado cativo para os produtos “anzol”.
O produto “anzol”: a fonte de lucro recorrente
O “anzol” é o verdadeiro motor financeiro do modelo. São os itens de consumo, refis ou acessórios que o cliente precisa comprar repetidamente. É aqui que a empresa aplica suas maiores margens de lucro. A chave é que esses produtos sejam essenciais e, idealmente, exclusivos ou de difícil substituição por alternativas de concorrentes. A venda contínua desses itens gera uma receita previsível e escalável.
A importância da compatibilidade e do ecossistema
Para que o modelo funcione, é fundamental que os “anzóis” sejam compatíveis apenas com a “isca” da sua marca. Essa exclusividade cria uma barreira de saída para o cliente, incentivando a recompra. Empresas que aplicam essa estratégia com maestria constroem um verdadeiro ecossistema em torno de seus produtos, onde a “isca” é apenas a porta de entrada para um relacionamento de consumo duradouro.
Vantagens e Desvantagens do Modelo

Embora poderoso, o modelo Isca e Anzol não é isento de riscos e desafios. É crucial pesar seus benefícios e suas desvantagens antes de implementá-lo.
Vantagens
- Criação de receita recorrente e previsível: A venda contínua dos “anzóis” gera um fluxo de caixa estável, facilitando o planejamento financeiro e o crescimento sustentável do negócio.
- Aumento da fidelização e do LTV (Lifetime Value): Ao entrar no ecossistema da marca, o cliente tende a permanecer fiel, aumentando o valor total que ele gera para a empresa ao longo do tempo.
- Barreira de entrada para novos concorrentes: Uma vez que um cliente adquire a “isca”, é menos provável que ele mude para um concorrente, pois isso invalidaria seu investimento inicial. Isso cria uma forte vantagem competitiva.
Desvantagens
- Risco do “aprisionamento tecnológico” (Vendor Lock-in) ser quebrado: Concorrentes podem desenvolver “anzóis” compatíveis e mais baratos, quebrando a exclusividade e capturando a fonte de lucro. O aprisionamento tecnológico ocorre quando o custo ou a dificuldade de mudar de fornecedor é tão alto que o cliente se sente “preso”, uma situação que pode ser explorada por concorrentes que oferecem alternativas.
- Necessidade de alto capital inicial para subsidiar a “isca”: Vender o produto principal com prejuízo ou baixa margem exige um investimento inicial significativo para financiar a produção e a distribuição em larga escala até que as vendas dos “anzóis” compensem.
- Percepção negativa do consumidor se a estratégia for muito agressiva: Se o preço dos “anzóis” for percebido como abusivo, os clientes podem se sentir explorados, gerando uma reação negativa e prejudicando a reputação da marca.
Exemplos Clássicos e Modernos de Aplicação

A estratégia Isca e Anzol foi validada por décadas em diversos setores, adaptando-se com sucesso das prateleiras do varejo para o mundo digital.
Exemplos Clássicos
- Gillette: As lâminas de barbear: O exemplo que deu nome ao modelo. A Gillette supostamente distribuía aparelhos de barbear a preços muito baixos (a “isca”) para criar um mercado massivo para suas lâminas de reposição patenteadas (o “anzol”), onde a margem de lucro era altíssima.
- HP: As impressoras e os cartuchos de tinta: A HP e outras fabricantes de impressoras popularizaram a venda de equipamentos a preços extremamente competitivos. O lucro real vem da venda contínua de cartuchos de tinta, que são caros e específicos para cada modelo, garantindo uma fonte de receita duradoura.
Exemplos Modernos
- Salesforce: O modelo de Software as a Service (SaaS): Empresas de SaaS, como a Salesforce, adaptaram o modelo para o ambiente digital. Em vez de uma “isca” física, elas oferecem um plano de assinatura inicial acessível ou até gratuito (freemium). O lucro vem dos “anzóis”: upgrades para planos mais avançados, funcionalidades extras e o pagamento recorrente da assinatura, que mantém o cliente “preso” ao ecossistema de software, transformando o software de um produto para um serviço contínuo.
- Console de Videogames: PlayStation e Xbox: Fabricantes como Sony e Microsoft frequentemente vendem seus consoles com margens de lucro muito pequenas ou até com prejuízo. A receita principal é gerada pela venda de jogos, assinaturas de serviços online (como a PS Plus e o Game Pass) e taxas sobre as vendas na loja digital.
- Máquinas de Café: Nespresso e as cápsulas: A Nespresso vende suas máquinas de café (a “isca”) a um preço relativamente acessível para popularizar o sistema. O lucro recorrente e de alta margem vem da venda exclusiva de suas cápsulas de café (o “anzol”), criando um ciclo de consumo contínuo. No entanto recentemente a patente do formato das cápsulas expirou e agora muitos concorrentes estão oferecendo capsulas com formatos compatíveis. A resposta da Nespresso foi criar uma nova geração de máquinas com capsulas mais sofisticadas.
Como aplicar o Modelo Isca e Anzol no seu negócio?

Implementar essa estratégia exige um planejamento cuidadoso, que vai desde a seleção dos produtos certos até a definição de uma estrutura de preços que equilibre atratividade e lucratividade.
Passo 1: Identifique a “isca” e o “anzol” no seu portfólio
O primeiro passo é analisar seus produtos e serviços para encontrar uma combinação viável. A “isca” deve ser algo que tenha apelo em massa e um baixo custo de produção, permitindo que seja oferecida a um preço agressivo. O “anzol” deve ser um item consumível, um serviço de assinatura ou um acessório essencial que o cliente precisará comprar repetidamente.
Passo 2: Calcule o custo e a margem de cada componente
É fundamental ter um controle rigoroso sobre os custos. Você precisa saber exatamente quanto custa produzir tanto a “isca” quanto o “anzol”. Essa análise permitirá definir o quanto você pode subsidiar no produto principal e qual deve ser a margem de lucro do produto complementar para que o modelo seja financeiramente sustentável a longo prazo.
Passo 3: Defina a estratégia de precificação para ambos
A precificação é um ponto crítico. A “isca” deve ter um preço que elimine qualquer hesitação do consumidor. Para o “anzol”, o preço deve ser alto o suficiente para gerar lucro, mas não tão excessivo a ponto de afastar os clientes ou incentivá-los a buscar alternativas. É essencial considerar a percepção de valor do público e os preços praticados pela concorrência, fatores cruciais para definir uma estratégia de preços eficaz.
Passo 4: Comunique o valor de forma clara ao cliente
A comunicação deve focar no benefício e na economia do produto principal. Deixe claro para o cliente o quão acessível é começar a usar sua solução. Ao mesmo tempo, o valor e a qualidade dos “anzóis” devem ser ressaltados para justificar a recompra contínua. A transparência é importante para construir uma relação de confiança e evitar que o cliente se sinta enganado pelos custos futuros.
Perguntas Frequentes (FAQ)
Qual a principal vantagem do modelo Isca e Anzol?
A principal vantagem é a criação de uma receita recorrente e previsível. Ao vender um produto principal de baixo custo, a empresa atrai uma grande base de clientes que, posteriormente, precisam comprar consumíveis ou acessórios de forma contínua, garantindo um fluxo de caixa estável e aumentando o valor do tempo de vida do cliente (LTV).
Quais os maiores riscos desse modelo de negócio?
O maior risco é a concorrência quebrar a exclusividade do “anzol”. Se outras empresas conseguirem fabricar produtos compatíveis e mais baratos, elas podem roubar sua principal fonte de lucro. Outro risco é a percepção negativa do cliente, caso o preço dos consumíveis seja considerado abusivo, o que pode danificar a reputação da marca.
O modelo Isca e Anzol funciona para serviços?
Sim, o modelo foi adaptado com muito sucesso para o setor de serviços, especialmente no formato Software as a Service (SaaS). Empresas oferecem uma versão básica e barata (ou até gratuita) de seu software como “isca” e lucram com as assinaturas mensais, upgrades para planos com mais recursos e serviços adicionais, que funcionam como os “anzóis”.
Como calcular o preço certo para a “isca” e o “anzol”?
O preço da “isca” deve ser baixo o suficiente para minimizar a barreira de entrada, idealmente próximo ou abaixo do custo de produção. O preço do “anzol” deve cobrir o prejuízo da “isca” e gerar lucro. Para isso, é essencial calcular o custo total de aquisição do cliente (CAC) e o Lifetime Value (LTV) esperado, garantindo que as vendas recorrentes compensem o investimento inicial.
Sobre o Autor
Roberto Sousa é CMO e CTO da Junior Contador Digital. Formado em Engenharia pela Escola Politécnica da USP e com Pós-Graduação em Marketing pela ESPM, Roberto possui vasta expertise em gestão de empresas, marketing, vendas, gestão de pessoas e tecnologia. Com conhecimento adicional em marketing digital, CRM, automação de processos e segurança da informação, ele atua como autor no blog, compartilhando seu conhecimento prático para ajudar no crescimento de Pequenas e Médias Empresas.
Referências
- Modelo de Negócio: 17 tipos para se inspirar no mercado! – Serasa …: https://www.serasaexperian.com.br/conteudos/modelo-de-negocio-17-tipos-para-se-inspirar-no-mercado/
- Como criar uma estratégia de preços que gere lucros para a …: https://sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/como-criar-uma-estrategia-de-precos-que-gere-lucros-para-a-empresa,6664416ff3586810VgnVCM1000001b00320aRCRD
- O que é aprisionamento tecnológico? | Aprisionamento tecnológico …: https://www.cloudflare.com/pt-br/learning/cloud/what-is-vendor-lock-in/
- What is SaaS? – Software as a Service Explained – Salesforce: https://www.salesforce.com/saas/
