Muitas empresas promissoras fecham as portas não por falta de clientes ou de um bom produto, mas por uma razão silenciosa e fatal: elas não entendem seus próprios custos. O empreendedor, sem perceber, acaba “pagando para trabalhar”, e quando a conta chega, pode ser tarde demais. Para evitar essa armadilha, existe uma ferramenta poderosa que funciona como um verdadeiro mapa para o sucesso do negócio: o Business Model Canvas.
Criado por Alexander Osterwalder, o Business Model Canvas é uma ferramenta de gestão estratégica que permite visualizar e planejar todo o seu negócio em uma única página. De todos os seus nove blocos, a “Estrutura de Custos” funciona como o alicerce financeiro. Este artigo vai te ensinar a preencher este campo de forma estratégica e à prova de falhas.
Ao final desta leitura, você saberá não apenas listar suas contas a pagar, mas usar seus custos como uma ferramenta estratégica para garantir a lucratividade e a sustentabilidade do seu empreendimento.
O que é a Estrutura de Custos no Business Model Canvas? (E por que ela é a base de tudo)

A Estrutura de Custos é o bloco que descreve todos os custos mais importantes incorridos para operar o seu modelo de negócio. Mas atenção: não se trata de uma simples lista de contas a pagar. É a representação da lógica financeira por trás da criação e entrega de valor aos seus clientes.
Pense na seguinte analogia: se a sua Proposta de Valor é o “produto na prateleira”, a Estrutura de Custos é a “fábrica” inteira. São as máquinas, os salários, a matéria-prima, a energia gasta, o marketing para atrair o cliente… é tudo o que você gasta para a mágica acontecer.
Ignorar este bloco é como navegar em mar aberto sem saber se há um furo no casco do barco. É na Estrutura de Custos que se define a viabilidade e a lucratividade real do negócio. Uma estrutura mal compreendida é uma das principais causas de mortalidade empresarial, um fato corroborado por dados do Sebrae que apontam a má gestão como um fator crucial para o fechamento de empresas no Brasil.
Entre os erros mais comuns ao preencher este bloco estão:
- Ser excessivamente otimista: Subestimar os custos é a receita para o desastre financeiro.
- Esquecer custos “invisíveis”: Impostos, taxas de cartão de crédito, e o fundamental pró-labore dos sócios são frequentemente ignorados.
- Focar apenas no óbvio: Muitos listam a matéria-prima, mas esquecem dos custos das atividades-chave, como marketing, pesquisa e desenvolvimento.
Os 2 Modelos para sua Estrutura de Custos: Você Compete por Preço ou por Valor?

Toda estrutura de custos, conscientemente ou não, segue uma de duas lógicas centrais. A sua escolha aqui não é apenas financeira, ela define toda a estratégia da sua empresa.
Modelo 1: Orientado a Custo (Cost-Driven)
Neste modelo, o foco principal é minimizar os custos em todas as frentes possíveis. O objetivo é criar e manter a estrutura de custos mais “enxuta” que se possa imaginar, para então repassar essa economia para o preço final.
O exemplo clássico são as companhias aéreas de baixo custo. A Harvard Business Review cita a Ryanair como um caso exemplar de um modelo de negócio focado em uma estrutura de baixo custo. Elas conseguem isso operando em aeroportos secundários (mais baratos), maximizando a automação (check-in online), cobrando por qualquer serviço extra (bagagem, marcação de assento) e padronizando a frota para baratear a manutenção.
- Implicação Estratégica: Permite oferecer preços agressivamente baixos, atraindo um grande segmento de clientes sensíveis ao preço. A margem de lucro por cliente é pequena, o que exige um altíssimo volume de vendas para o negócio ser lucrativo.
- Desafios: A empresa vive em uma guerra de preços constante, corre o risco de ter sua imagem associada à “baixa qualidade” e fica extremamente vulnerável a qualquer aumento inesperado nos custos.
Modelo 2: Orientado a Valor (Value-Driven)
Aqui, a preocupação com os custos é secundária. O foco absoluto está na criação de valor premium e em uma experiência excepcional para o cliente. Os custos elevados são uma consequência direta da alta qualidade, exclusividade e personalização oferecidas. A distinção entre modelos orientados a custo e a valor é um pilar do planejamento estratégico.
Pense em hotéis de luxo como o Four Seasons, marcas de grife como Rolex e Louis Vuitton, ou serviços de consultoria de altíssima especialização. Eles alcançam esse patamar com serviço impecável, materiais de primeira linha, um branding poderoso e um foco obsessivo na experiência do cliente.
- Implicação Estratégica: Permite praticar preços premium, resultando em margens de lucro muito mais altas por cliente. Constrói uma marca forte, gera lealdade e torna os clientes menos sensíveis a variações de preço.
- Desafios: O custo para adquirir e manter o padrão de excelência é altíssimo. O mercado-alvo é, por natureza, menor e mais restrito. Além disso, exige inovação constante para continuar justificando o alto valor percebido pelo cliente.
Módulo de Ação: Checklist Prático para Mapear sua Estrutura de Custos

Chega de teoria. Pegue seu Canvas (ou uma folha de papel) e vamos preencher este bloco passo a passo, sem deixar nada para trás.
- Passo 1: Liste os Custos dos Recursos-Chave:
- ✅ Qual o custo do seu espaço físico (aluguel, condomínio, IPTU)?
- ✅ Qual o custo de seus equipamentos e tecnologia (máquinas, computadores, licenças de software)?
- ✅ Qual o custo de seus ativos intelectuais (registro de marca, patentes)?
- Passo 2: Liste os Custos das Atividades-Chave:
- ✅ Quanto custa para produzir seu produto/serviço (matéria-prima, mão de obra direta)?
- ✅ Quanto custa para divulgar e vender (marketing, comissões de vendedores, taxas de marketplace)?
- ✅ Quanto custa para manter a operação (salários da equipe administrativa, contador, internet, telefone)?
- Passo 3: Classifique Tudo:
- ✅ Separe cada item da lista em Custos Fixos (que não mudam com o volume de vendas, como aluguel) e Custos Variáveis (que mudam com o volume, como matéria-prima).
- Passo 4: Identifique Oportunidades:
- ✅ Economia de Escala: Onde você pode reduzir custos comprando em maior volume?
- ✅ Economia de Escopo: Você pode usar uma estrutura existente (ex: sua equipe de vendas) para vender um novo produto e diluir os custos fixos?
- Passo 5: A Prova Final:
- ✅ Some todos os custos. Compare este total com suas Fontes de Receita. A conta fecha com uma margem de lucro saudável?
Conclusão: Sua Estrutura de Custos é um GPS, não uma Âncora

Compreender a sua Estrutura de Custos é libertador. Você aprendeu o que ela significa, descobriu se sua empresa compete por custo ou por valor, e tem em mãos um checklist prático para mapear cada centavo.
Lembre-se: a análise de custos não é um exercício para ser feito uma única vez e guardado na gaveta. Sua Estrutura de Custos é uma ferramenta viva, um GPS que deve ser consultado e ajustado regularmente para manter sua empresa na rota da lucratividade e do crescimento sustentável.
Abra seu Business Model Canvas agora e revise sua Estrutura de Custos com o que você aprendeu. Esse pode ser o passo mais importante que você dará hoje pelo futuro do seu negócio.
Perguntas Frequentes sobre Estrutura de Custos

Qual a diferença entre Custo e Despesa no Canvas?
De forma simples, Custos estão diretamente ligados à sua atividade-fim (ex: matéria-prima, produção). Despesas são gastos para manter a empresa funcionando, mas não estão diretamente ligadas ao produto/serviço final (ex: aluguel do escritório administrativo, marketing). No Canvas, ambos entram na Estrutura de Custos, mas é útil ter essa distinção para a gestão.
Como detalhar os custos se meu negócio ainda não começou?
Use estimativas e pesquisas. Faça cotações com fornecedores, pesquise salários de mercado, simule custos de marketing. Crie três cenários: Otimista (tudo sai mais barato), Realista (a média do mercado) e Pessimista (com uma margem de segurança de 20-30% a mais nos custos). Comece pelo pessimista para garantir a viabilidade.
Devo colocar o salário dos sócios (pró-labore) na estrutura de custos?
Sim, absolutamente. É um dos erros mais comuns e perigosos. O pró-labore é um custo fixo da empresa. Se o negócio não consegue pagar um salário justo aos sócios, ele não é sustentável. Não confunda o lucro da empresa com o seu salário.
Com que frequência devo revisar minha Estrutura de Custos?
No mínimo, trimestralmente. Porém, a revisão deve ser imediata sempre que houver uma mudança significativa: um grande aumento de um fornecedor, a contratação de um novo funcionário-chave, uma mudança na estratégia de marketing, ou uma crise econômica. Pense no seu Canvas como um painel de controle vivo.
Sobre o Autor
Júnior Araújo
- Título: Contador e CEO da Junior Contador Digital;
- Registro CRC: SP-345376;
- Formação: Ciências Contábeis – Faculdade de Americana (FAM);
- Expertise Principal: Consultoria contábil e fiscal estratégica, com foco em estratégias de estruturação de holdings patrimoniais, planejamento tributário e otimização fiscal para empresas de diversos portes.
- Conhecimento Adicional: Integração de tecnologia em processos contábeis, Normas IFRS;
- Papel no Blog: Editor-Chefe e autor, compartilhando conhecimento prático para PMEs.
Referências
- Osterwalder, A. & Pigneur, Y. (s.d.). The Business Model Canvas. Strategyzer. Acessado em 13 de agosto de 2025, de https://www.strategyzer.com/library/the-business-model-canvas
- Sebrae. (s.d.). A taxa de sobrevivência das empresas no Brasil. Portal Sebrae. Acessado em 13 de agosto de 2025, de https://sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/a-taxa-de-sobrevivencia-das-empresas-no-brasil,d5147a3a415f5810VgnVCM1000001b00320aRCRD
- Moura, M. (s.d.). Aprendendo a metodologia do Business Model Canvas. LinkedIn. Acessado em 13 de agosto de 2025, de https://pt.linkedin.com/pulse/aprendendo-metodologia-do-business-model-canvas-mateus-moura
- Johnson, M. W., Christensen, C. M., & Kagermann, H. (2011). How to Design a Winning Business Model. Harvard Business Review. Acessado em 13 de agosto de 2025, de https://hbr.org/2011/01/how-to-design-a-winning-business-model