Iniciar um negócio no Brasil é uma jornada empolgante, mas repleta de desafios. Um dado que contextualiza o desafio de manter uma empresa no Brasil mostra que, embora muitos CNPJs sejam abertos, a sobrevivência a longo prazo é a verdadeira prova de fogo. A boa notícia é que grande parte dos fracassos prematuros não se deve a ideias ruins, mas a erros de execução que poderiam ter sido evitados.
Este artigo, “Os 5 Erros Mais Comuns ao Abrir uma Empresa no Brasil e Como Evitá-los” é um guia prático para o novo empreendedor. Listamos os 5 erros mais críticos que levam negócios promissores à falência e, mais importante, mostramos como se precaver contra eles. Com a orientação correta, é possível navegar pelo processo de abertura com segurança e aumentar drasticamente as chances de construir uma empresa sólida e lucrativa.
Erro 1: Falta de um Plano de Negócios Sólido

Iniciar as operações sem um documento que estruture a visão, o mercado, os produtos, as estratégias e as projeções financeiras é o equivalente a navegar sem um mapa. Muitos empreendedores, na ânsia de começar, pulam essa etapa fundamental, o que pode ser fatal.
Um exemplo clássico é o empreendedor que abre um café gourmet em uma área com alta concorrência sem analisar o público local, os preços dos concorrentes ou calcular seu ponto de equilíbrio. O resultado provável é um fluxo de caixa negativo desde o primeiro mês, pois, como apontam estudos sobre as principais causas de fracasso em pequenos negócios, não satisfazer uma necessidade de mercado e não ter um modelo de negócios viável estão no topo da lista.
Sem um plano, as decisões são tomadas com base em “achismos”, levando a investimentos errados, desperdício de capital e uma total incapacidade de apresentar a ideia de forma coerente a bancos ou investidores. O desafio é enxergar o plano não como um documento burocrático e engessado, mas como um guia vivo e dinâmico para a tomada de decisões estratégicas.
Erro 2: Escolha Incorreta do Regime Tributário

O sistema tributário brasileiro é notoriamente complexo. Optar pelo Simples Nacional, Lucro Presumido ou Lucro Real sem uma análise detalhada do faturamento previsto, margem de lucro, tipo de atividade (CNAE) e folha de pagamento é um dos erros mais caros que um novo empresário pode cometer.
Imagine uma empresa de serviços de consultoria, com alta lucratividade e poucos funcionários. Ela poderia se beneficiar enormemente do Lucro Presumido, mas, por desconhecimento, opta pelo Simples Nacional “por ser mais fácil”. No final do mês, acaba pagando uma alíquota efetiva maior sobre seu faturamento, um reflexo direto da alta carga tributária que desafia os negócios no país.
A implicação estratégica é clara: pagar mais impostos do que o necessário compromete a competitividade e o lucro. Pior ainda, a escolha errada do regime só pode ser alterada no ano-calendário seguinte, o que significa um ano inteiro de prejuízo fiscal que poderia ter sido evitado. O regime mais “simples” no nome nem sempre é o mais barato; a análise depende de projeções e simulações de cenários, exigindo conhecimento técnico especializado.
Erro 3: Ignorar a Burocracia e as Obrigações Legais

Muitos empreendedores focam tanto no produto ou serviço que subestimam a importância dos processos formais. Não realizar a Consulta de Viabilidade na Junta Comercial, não definir corretamente as cláusulas do Contrato Social ou desconhecer as licenças e alvarás necessários para a operação (Vigilância Sanitária, Bombeiros, etc.) são omissões perigosas.
Um cenário trágico e comum é o do empresário que investe na reforma de um ponto comercial para montar um pequeno restaurante e só depois descobre que o imóvel não permite a obtenção do alvará de funcionamento da prefeitura. Todo o investimento é perdido. Seguir o passo a passo oficial do governo é o mínimo para evitar surpresas.
Ignorar a burocracia pode levar a multas pesadas, interdição do estabelecimento e a impossibilidade de operar legalmente. Além disso, um Contrato Social mal elaborado é uma bomba-relógio que pode gerar conflitos societários graves no futuro. É crucial lembrar que as exigências burocráticas variam entre municípios e estados, tornando o apoio profissional indispensável.
Erro 4: Misturar Finanças Pessoais e Empresariais

Este é talvez o erro mais comum e um dos mais destrutivos. Usar a conta bancária da empresa para pagar despesas pessoais (aluguel, escola dos filhos) ou usar a conta pessoal para pagar fornecedores cria um caos financeiro. A ausência de um pró-labore (o “salário” do sócio) fixo agrava ainda mais a situação.
O dono da empresa que usa o cartão de crédito corporativo para as compras de supermercado é um exemplo clássico. No final do mês, o fluxo de caixa não fecha e torna-se impossível saber se a operação deu lucro ou prejuízo real, mascarando a verdadeira saúde do negócio. Conforme alertam especialistas, os riscos de misturar as finanças são enormes.
A consequência é a perda total do controle financeiro, a impossibilidade de calcular a lucratividade, problemas com a fiscalização (que pode interpretar a mistura como distribuição disfarçada de lucros) e o risco constante de descapitalizar a empresa para cobrir gastos pessoais. A disciplina de criar contas separadas e definir um pró-labore, mesmo que pequeno no início, é crucial desde o primeiro dia.
Erro 5: Não Definir um Capital Social Adequado

O Capital Social é o valor que os sócios investem para que a empresa comece a operar. Um erro frequente é registrar um valor simbólico e irreal, que não condiz com o investimento necessário para sustentar o negócio nos primeiros meses.
Registrar uma pequena indústria com um capital social de R$ 1.000, quando a compra do maquinário inicial custou R$ 100.000, por exemplo, gera desconfiança imediata em bancos e fornecedores. Isso demonstra falta de planejamento e pode criar problemas fiscais, pois será preciso justificar a origem do dinheiro que de fato foi investido na operação.
A principal implicação é a dificuldade na obtenção de crédito, pois o capital social funciona como uma garantia inicial para credores. É importante entender que o capital não precisa ser integralizado (depositado) 100% em dinheiro no ato da abertura; ele pode incluir bens como máquinas, veículos e equipamentos. Definir um valor realista e coerente com o plano de negócios é fundamental para a credibilidade da empresa.
Checklist Prático: Evitando os Erros na Abertura da sua Empresa
Use esta lista para garantir que você está cobrindo as etapas mais importantes antes de dar os próximos passos.
- Fase de Planejamento:
- ✅ Elabore um Plano de Negócios detalhado (análise de mercado, público-alvo, projeções financeiras).
- ✅ Defina claramente meu produto ou serviço e o problema que ele resolve.
- ✅ Converse com potenciais clientes para validar minha ideia.
- Fase de Estruturação Legal e Fiscal:
- ✅ Contrate um contador de confiança para me auxiliar.
- ✅ Realize a simulação tributária para escolher o regime mais vantajoso.
- ✅ Elabore um Contrato Social claro, com as regras para todos os sócios.
- ✅ Defina um Capital Social condizente com o investimento inicial.
- Fase de Operação Inicial:
- ✅ Abra uma conta bancária PJ separada da conta pessoal.
- ✅ Definia um pró-labore fixo para os sócios.
- ✅ Calcule o capital de giro necessário para os primeiros 6 meses.
- ✅ Verifique todas as licenças e alvarás necessários para a atividade.
Conclusão sobre Erros Mais Comuns ao Abrir uma Empresa
A jornada empreendedora no Brasil é, sem dúvida, desafiadora. No entanto, a maioria dos fracassos está ligada a erros previsíveis e evitáveis nas áreas de planejamento, tributação, gestão financeira e conformidade legal.
Ignorar o plano de negócios, escolher o regime tributário errado, misturar as finanças e subestimar a burocracia são armadilhas que podem minar o potencial de qualquer boa ideia. A boa notícia é que, com informação e o suporte correto, é possível desviar de todas elas.
Lembre-se: o investimento em uma consultoria contábil especializada desde o início não é um custo, mas sim o alicerce para um crescimento seguro, sustentável e lucrativo.
Perguntas Frequentes (FAQ)

Quanto custa para abrir uma empresa no Brasil?
Os custos para abrir uma empresa variam significativamente dependendo do estado, da cidade e do tipo de atividade. Os principais componentes do custo incluem: as taxas da Junta Comercial (que mudam de estado para estado), o valor do certificado digital (e-CNPJ), os honorários do contador responsável pelo processo e, dependendo do negócio, custos com alvarás e licenças específicas (como da Vigilância Sanitária ou do Corpo de Bombeiros).
Preciso de um sócio para abrir uma empresa?
Não. Hoje, a opção mais comum para quem quer empreender sozinho é a Sociedade Limitada Unipessoal (SLU). Este formato permite abrir uma empresa com responsabilidade limitada (ou seja, seu patrimônio pessoal fica separado do patrimônio da empresa) sem a necessidade de sócios. A SLU substituiu a antiga EIRELI, eliminando a exigência de um capital social mínimo elevado.
O que é mais importante: um bom produto ou um bom plano de negócios?
Ambos são interdependentes e fundamentais para o sucesso. Um produto genial sem um plano de negócios sólido pode nunca encontrar o mercado certo ou ser precificado de forma incorreta. Por outro lado, um plano de negócios impecável não sustentará uma empresa cujo produto ou serviço não resolve um problema real para os clientes. Como indicam análises sobre causas de fracasso empresarial, a falta de necessidade do mercado é um dos principais motivos para o fechamento de negócios.
Posso abrir uma empresa com o nome sujo?
Sim, em geral, ter restrições no CPF (estar com o “nome sujo”) não impede legalmente a abertura de um CNPJ. Contudo, na prática, isso criará grandes obstáculos. A empresa terá enorme dificuldade, ou até mesmo impossibilidade, de obter crédito, financiamentos, abrir contas em alguns bancos e, em certos casos, até de negociar prazos com fornecedores estratégicos.
Qual a diferença entre Capital Social e Capital de Giro?
Apesar de ambos serem vitais, eles têm funções diferentes.
Capital Social: É o valor que os sócios investem para iniciar o negócio, formalizado no Contrato Social. Ele representa o investimento inicial para montar a estrutura da empresa, como comprar máquinas, reformar o imóvel, adquirir estoque inicial, etc.
Capital de Giro: É o recurso financeiro necessário para manter a empresa funcionando no dia a dia. Ele cobre as despesas operacionais (como salários, aluguel, contas de consumo e pagamento de fornecedores) no período entre a venda de um produto/serviço e o recebimento do dinheiro do cliente.
Sobre o Autor
Júnior Araújo
- Título: Contador e CEO da Junior Contador Digital;
- Registro CRC: SP-345376;
- Formação: Ciências Contábeis – Faculdade de Americana (FAM);
- Expertise Principal: Consultoria contábil e fiscal estratégica, com foco em estratégias de estruturação de holdings patrimoniais, planejamento tributário e otimização fiscal para empresas de diversos portes.
- Conhecimento Adicional: Integração de tecnologia em processos contábeis, Normas IFRS;
- Papel no Blog: Editor-Chefe e autor, compartilhando conhecimento prático para PMEs.
Referências
- Agência de Notícias IBGE: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/42109-taxa-de-nascimento-de-empresas-empregadoras-chega-a-15-3-e-e-a-maior-desde-2017
- Forbes Brasil: https://forbes.com.br/negocios/2019/05/10-principais-causas-de-fracasso-de-pequenas-empresas/
- Governo Federal (Gov.br): https://www.gov.br/empresas-e-negocios/pt-br/redesim/abrir-cnpj